Você já ouviu falar dos bebês reborn? São bonecos hiper-realistas que, para muitas pessoas, não são apenas objetos de coleção ou decoração, mas presença, companhia e afeto. Parece exagero? Pois saiba que tem gente dando banho, comprando fraldas, exigindo vaga em creche e até levando para consultas no SUS. Sim, estamos diante de um fenômeno que, à primeira vista, pode parecer absurdo — mas que, com um olhar mais cuidadoso, revela uma dor silenciosa: a ausência de acolhimento emocional.
Num mundo que exige produtividade, metas e performance até nos relacionamentos, o bebê reborn tem sido um tipo de “refúgio simbólico”. Um colo inventado, uma forma de suprir a falta de cuidado real. E essa falta não é exclusiva de quem está em sofrimento mental grave. Muita gente que sorri no elevador, que resolve mil coisas por dia, também gostaria de, em silêncio, ser visto, escutado, abraçado — sem ter que explicar muito.
O tema tem chegado a lugares inusitados: empresas recebendo pedidos de licença-maternidade por “filhos reborn”, pessoas apresentando atestados por luto simbólico ou tentando incluir os bonecos como dependentes para auxílio-família. A legislação, claro, não reconhece — mas a dor que está por trás disso não pode ser ignorada. Quando alguém precisa de um boneco para se sentir vivo ou importante, a pergunta que surge é: quantos de nós estão sendo invisíveis enquanto “funcionam” normalmente?
Julgar é fácil. Difícil é olhar para o outro com compaixão e perguntar: “O que está faltando para que essa pessoa se sinta segura?”. O bebê reborn é o sintoma — não o problema. E talvez a solução comece no gesto mais simples e potente de todos: escutar com verdade e cuidar de verdade. No fim das contas, o que todos nós buscamos — ainda que com diferentes linguagens — é um pouco mais de humanidade no meio do caos.